JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE 2011
FIRMES NA FÉ
Catequese dia 17:
Paróquia “Los doce Apóstoles”
Caríssimos jovens,
Permiti que comece por vos falar citando um texto do Concílio Ecuménico Vaticano II, o qual estamos prestes a celebrar 50 anos de existência, com toda a novidade e verdade que trouxe à Igreja! Na Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina, o Concílio diz, de uma forma breve e sucinta, o modo como Deus se dá a conhecer: «Em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15,1415) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta «economia» da revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido» (DV 2).
Deste texto, gostava de sublinhar algumas ideias. A primeira é que é Deus que toma a iniciativa de se comunicar, de se dar a conhecer. E fá-lo, não por qualquer outra causa, mas pelo o amor que nos tem, amor que tem por toda a humanidade. Mas este amor é um amor forte e fiel, é um amor que quer a plenitude! Ele é, só e apenas, Amor. Por isso, e esta é a segunda ideia, o Deus Amor, o Deus que nos ama, que gosta de nós, quer conviver connosco! Ser um connosco! Mas para quê? Porque é que Deus se baixa até cada um de nós? Simplesmente para conviver connosco, para ser nosso amigo e nos oferecer a salvação. Salvação que nós acolhemos e recebemos na medida em que livremente queremos conviver com Deus.
A Bíblia revela-nos toda uma história de salvação. Deus a caminhar com um povo, sendo sempre fiel ao amor, embora encontrando muitas negações e infidelidades. Tomada à letra, a Sagrada Escritura não parece uma manifestação de Deus Amor. Tantas infidelidades. A Bíblia diz mesmo que “se perdeu a fidelidade”. Teimando na estima que Deus tem pelo Homem, a incarnação de Cristo é o máximo do amor. Torna-se um de nós. Sempre do lado do Homem e num amor mais concreto com os mais pobres e necessitados. Se do lado do homem há respostas de “sim” e “não”, basta ver os episódios relacionados com os Apóstolos, Jesus Cristo dá sempre um “sim” fiel, firme, sólido, constante. Nada o demove mas tudo o comove por Amor.
Hoje, nós somos este Povo de Deus que deve corresponder fielmente ao amor de Deus. Sabemos que “Ele fixa amorosamente os olhos” e ama cada um como é. Isto é o cristianismo. Deixar-se tocar pelo amor e corresponder com fidelidade e firmeza.
Aqui reside a importância da nossa participação eclesial! É na Igreja que Deus, através das palavras e gestos salvíficos, vem ao nosso encontro, de forma plena e nos concede a salvação, à qual nós respondemos pela fé. Mas, cuidado, tenhamos bem presente que a fé não é um aceitar de verdades abstractas, sem as compreender. A fé é uma vida de relação, íntima e pessoal, com Deus, através de Jesus Cristo. Ter fé implica viver em comunhão com Deus. No Deus que nos fala pela Revelação e que nos ‘toca’ com gestos salvíficos em cada um dos sacramentos que celebramos. Mais, fala-nos e abraça-nos com uma mensagem terna e meiga, mas ao mesmo tempo exigente, através da Sua Igreja, que «em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (LG 1).
Contudo, o cristianismo no seu todo, e cada cristão em particular, na sua vida muito concreta, confronta-se com a ideia do «esquecimento de Deus». A vida moderna parece desenvolver-se à margem da fé. Ou dito de outra forma, a fé não transforma a vida. A relação de amizade com Deus por vezes não influencia a nossa vida. Sabemos, por experiência própria, que fomos criados para a plenitude, que não nos devemos contentar com mediocridades e que devemos querer sempre mais. Que só Deus é a resposta a aos nossos anseios mais profundos de verdade, de beleza e de autenticidade. Mas nós, cristãos, e sobretudo vós jovens, não nos podemos esquecer daquilo que o Papa Bento XVI nos diz na Mensagem para estas Jornadas:
Não, o homem é verdadeiramente criado para aquilo que é grande, para o infinito. Qualquer outra coisa é insuficiente. Santo Agostinho tinha razão: o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti. O desejo da vida maior é um sinal do facto que foi Ele quem nos criou, de que temos a Sua «marca». Deus é vida, e por isso todas as criaturas tendem para a vida; de maneira única e especial a pessoa humana, feita à imagem de Deus, aspira pelo amor, pela alegria e pela paz. Compreendemos então que é um contra-senso pretender eliminar Deus para fazer viver o homem! Deus é a fonte da vida; eliminá-lo equivale a separar-se desta fonte e, inevitavelmente, a privar-se da plenitude e da alegria: «De facto, sem o Criador a criatura esvaece» (GS 36). A cultura actual, nalgumas áreas do mundo, sobretudo no Ocidente, tende a excluir Deus, ou a considerar a fé como um facto privado, sem qualquer relevância para a vida social. Mas o conjunto de valores que estão na base da sociedade provém do Evangelho — como o sentido da dignidade da pessoa, da solidariedade, do trabalho e da família — constata-se uma espécie de «eclipse de Deus», uma certa amnésia, ou até uma verdadeira rejeição do Cristianismo e uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder a própria identidade profunda» (nº 1).
Numa linguagem humana, podemos dizer que Deus é fiel a um amor único. E nós? É uma questão a enfrentar todos os dias. Sejamos sinceros e honestos. Há momentos em que não custa afirmar o amor a Deus. O espaço fraterno do nosso grupo, a vida familiar onde Deus conta, uma Eucaristia organizada por nós, estas Jornadas Mundiais que nos proporcionam experiências fortes, etc.
E depois?
O quotidiano do confronto com colegas que nos julgam, criticam, gozam…?
Certas experiências e ambientes mais sedutores e atractivos…?
É aí que se mostra a firmeza da nossa escolha e a qualidade do nosso amor. A fé não é de momentos. Enche a vida. Está em tudo no que se diz ou faz, nas opções ou na rotina. Gera confrontos mas espera coerência. Estar do lado de Cristo e da Igreja sempre complica a vida mas dá-lhe encanto. Muitos contentam-se com as emoções passageiras. Um jovem cristão aguenta, está firme e caminha serenamente perante os mais variados ambientes. Aplausos? Assobios? Gozo? Cristo e a Igreja são mais fortes.
Escutemos, mais uma vez, o Papa Bento XVI quando nos diz o que é a fé e como se cultiva este diálogo amoroso e firme com Deus:
«Abri e cultivai um diálogo pessoal com Jesus Cristo, na fé. Conhecei-o mediante a leitura dos Evangelhos e do Catecismo da Igreja Católica; entrai em diálogo com Ele na oração, dai-lhe a vossa confiança: ele nunca a trairá! “Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus” (CCE 150). Assim podereis adquirir uma fé madura, sólida, que não estará unicamente fundada num sentimento religioso ou numa vaga recordação da catequese da vossa infância. Podereis conhecer Deus e viver autenticamente d’Ele, como o apóstolo Tomé, quando manifesta com força a sua fé em Jesus: “Meu Senhor e meu Deus!”» (nº 4).
O desafio actual é tremendo. O mundo coloca-nos permanentemente em questão. A história da Igreja mostra como os cristãos sentiram alegria em se assumirem como tal em tempos difíceis. Nem sequer tinham medo do martírio. Nunca esqueciam que a fé é adesão pessoal a Cristo e assentimento livre a toda a verdade. É preciso ter coragem para remar contra a corrente. É fácil ser firme, coerente e fiel no amor? Não. Mas temos algumas ferramentas sugeridas pelo Santo Padre que poderão ajudar a aprofundar a nossa relação com Cristo. Assim conseguiremos permanecer fieis e firmes mediante a oração, a leitura dos Evangelhos, o Catecismo da Igreja e, agora, o Youcat.
Se aceitarmos este percurso, verificamos que a fé é um dom precioso, no qual Cristo se manifesta a cada um de nós, a cada ser humano. Cristo mostra-nos Deus! Então, a fé ilumina a vida dos crentes, transformando-a, porque o homem foi criado à imagem de Deus e está feito para viver em relação com Deus. Só com a fé em Deus, que é o único em quem verdadeiramente poderemos ter a verdadeira e profunda fé, entramos em comunhão com Ele e a nossa vida é transformada por Ele. Toda a nossa vida é transformada à imagem de Deus: o que conhecemos e como conhecemos; aquilo de que gostamos e a nossa afectividade; e as nossas opções de fundo quotidianas, a nossa vontade, são, então, todas transformadas e convertidas por Deus, fazendo de nós «homens novos».
O mundo necessita de jovens cristãos. A Igreja precisa de vós. Sede, porém, autênticos. Não vos contenteis com as melodias passageiras. Dançai interiormente ao ritmo de Cristo e da Igreja. Ser firme na fé é não ter medo. Que estas Jornadas Mundiais fiquem marcadas pelo grito Evangélico do Beato João Paulo II: “Não tenhais medo. Abri o vosso coração a Cristo”. Que Ele o encha de alegria e esperança.
ALGUMAS QUESTÕES PARA REFLECTIR
Questões para a vossa reflexão pessoal, ou em grupo, para trazer dificuldades concretas ou partilha de vida, formulando perguntas ou apresentando experiências concretas.
Para muitos ter fé significa ter sido baptizado. Uma questão de tradição. Algo querido pelos pais, sem muita consistência.
Os tempos Apostólicos mostram que a fé significa adesão a Cristo e ao seu projecto. Fizeram-no. Falharam mas recomeçaram. O amor pessoal levou ao martírio.
Deixo três interpelações: - Já assumimos a fé como dom e tarefa?
- Tememos o confronto com outras manifestações religiosas. Já o experimentaram?
- Como tomar, hoje, em Portugal, nesta sociedade, neste tempo, a fé como algo de firme?
TÓPICOS PARA A HOMILIA
A primeira leitura (Hb 11, 1-2, 7-11) fala-nos dos «antepassados» que são um exemplo para nós, pelo modo como viveram a fé. Mais, como essa fé os levou a uma vida plena e como podemos ver que Deus é sempre fiel às suas promessas e nunca abandona ninguém.
Hoje padecemos duma crise de memória. O jovem parece só querer o presente e o que ele lhe dá. Importa viver plenamente o presente com todas as energias mas na fidelidade. Só esta garante os frutos saborosos duma vida autêntica.
O Evangelho (Mt 14, 23-33) mostra-nos o Senhor a caminhar sobre o mar. Recordemos que o mar, para o povo hebreu, é o lugar das forças do mal, poderosas, e que só Deus pode domar. Por isso, aqui, Jesus revela-se como o Messias. Mas é um Messias próximo e que se revela de modo humano. Por isso, também Ele tem necessidade de se recolher em oração. Precisa de cultivar a relação com o Pai para cumprir a Sua missão. Também cada um de nós precisa de tempos e espaços de oração, para sermos fiéis à nossa opção por Cristo e para O acolhermos em toda a nossa vida. Há muita gente a pretender tempos mais tranquilos. Não sei porquê? Gosto de viver neste tempo agitado, de perplexidades e desafios. O medo, por vezes, quer invadir e atar os movimentos duma vida entregue a Cristo. Vejo que devo centralizar-me. O perigo parece estar fora. Mas está dentro de mim. Volto ao encontro com o amigo invisível mas forte. Celebro, encontro-me com Ele no Irmão, na Palavra, na Eucaristia, na oração, na comunidade. Os discípulos de Emaús estavam perdidos mas encontraram-se.
Na atitude de Pedro reflecte-se a nossa própria vida: o que conseguimos quando aceitamos a fé e o que a ausência de fé causa nas nossas vidas. Prioridade das prioridades é Cristo. Só enraizados permanentemente n’Ele é que aguentaremos e teremos alegria para oferecer a quem caminha connosco. Temos algo a dar ou a dizer na família, na Universidade, na comunidade, se tivermos Cristo no coração. É o desafio. Deus queira que seja o compromisso destas Jornadas para que a Igreja, em Portugal, a repensar a Pastoral, possa contar com jovens comprometidos com Cristo no seio das comunidades.
Madrid, 17 de Agosto de 2011
† Jorge Ortiga, A.P.
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